segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um encontro com o poeta.


Há mais ou menos um ano, nosso grupo fez a primeira visita à terra natal de Jáder de Carvalho. Um momento bastante singular foi, quando, subindo a Serra do Estevão, viu-se, ao longe, linda árvore florida em rosa. Envoltos na poesia de Jáder de Carvalho, tal momento não poderia ser visto de modo menos poético. Não há registro fotográfico, é a memória que nos traz novamente o momento:

Foi então que veio a grande ideia de visitar o poeta.
Por onde andava o senhor das tantas saudades, menino eterno, poeta solitário?
Vamos a Quixadá! - soprou o vento sertanejo, que Jáder estaria lá.
E o caminho foi feito.
Haja verde cajueiro, haja ocre terra, haja cinza.
Haja casa na beira da estrada, agora, moderna estrada.
Haja monólito que se coloque imponente no horizonte,
Sentinela a resguardar o berço do poeta valente.
Chegada à terra de Jáder, haja memória daqueles que não deixam que o passado passe.
A terra de Jáder está mudada, mas a natureza ainda o traz.
Se o poeta escreve a paisagem que percebe, ela é só sua
O leitor, no texto-poesia, o que vê?
Não há ali uma paisagem-poeta?
E, vendo a paisagem quixadaense, não foi mesmo Jáder que assim nos (a)pareceu?
Derrubaram a casa do poeta e a Serra do Estevão está bem mudada,
Mas o sertão ainda é sertão
E a quem aprendeu a enxergar o sertão-poesia de Jáder,
Não pôde ter outra ideia ao ver o ipê rosa florido
Solitário em meio ao verde do serrote,
Era Jáder sorrindo ao dizer:
Essa é minha terra natal!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Centro Cultural Jáder de Carvalho é inaugurado hoje em Fortaleza

É com muita satisfação que o nosso blog traz uma ótima notícia para os amantes da literatura de Jáder de Carvalho: um centro cultural em sua homenagem será inaugurado hoje às 20 horas na Avenida Beira Mar, em frente ao Náutico Atlético Cearense.
O Centro Cultural Jáder de Carvalho é uma merecida homenagem ao nosso poeta, que, sem dúvidas, foi um dos grandes escritores de nossas terras e que não deve permanecer apenas na memória de seus admiradores, mas, sim, possar a ser reconhecido pelo povo da cidade que ele escolheu para viver. 
Veja mais informações aqui.


Fonte: Jornal O Povo


domingo, 7 de abril de 2013

Um poeta entre o sertão e o mar

 
Nosso escritor Jáder de Carvalho foi um homem apaixonado pelo sertão quixadaense, terra de suas origens. Entretanto, a cidade, com suas praças, seresteiros e moças nas janelas, também encantou o poeta.
Em seus poemas, cantou o sertão de sua infância, marcado pela seca e pela alegria das gentes ao ver a chuva molhando a terra; cantou a vida no campo, onde "grasnam bandos de marrecas"* e sente-se "o cheiro bom do gado"*. Por outro lado, dedicou belos versos à Fortaleza antiga, de "ruas tranquilas"** e noites em que se podia escutar "os bramidos do mar no Paredão"**. 
É desse homem entre o sertão e o mar, entre Quixadá e Fortaleza, que fala o poema a seguir, extraído de Temas Eternos (1973).  
 
 
Sertão e Mar
 
O sertão me chamava. Eu tive pena.
E, em madrugada que jamais esqueço,
eis-me no trem. A máquina apitou.
Chegara a hora - o coração me disse.
 
A máquina cansava nas subidas.
Nas curvas os apitos se estiravam,
num longo adeus a tudo que ficara
na linha azul do mar, de que eu fugia.
 
Ah, na fumaça da locomotiva,
que se encurvava aos ventos da viagem,
ia o meu lenço, a minha despedida.
 
Amoroso do mato e da cidade,
se me alegrava o cheiro do sertão,
como gemia o mar dentro de mim!
 
 
 
*Trechos do poema "Noite no sertão", em Temas Eternos (1973).
**Trechos de "Sonetos para Fortaleza", em Temas Eternos (1973).