No ano passado, visitamos a casa de Jáder, na Rua Agapito dos Santos, 389. Percorremos o sobrado que servira de habitação
ao escritor até o fim de sua vida e onde funcionara a Terra do Sol, sua
editora. Restam poucos vestígios da passagem de Jáder por lá, embora
significativos. Uma espécie de sala abriga, ao centro, uma escrivaninha e uma
cadeira, rodeadas pelo que hoje resta de sua biblioteca, resguardada em
estantes de madeira; na parede, afixadas em muitos quadros de vidro, estão
fotografias de ocasiões diversas – é possível identificar a figura de Jáder em
ocasiões solenes (trajado formalmente, ao lado de outras pessoas) ou mais íntimas
(uma foto, por exemplo, registra o momento em que Jáder tem uma criança em seus
braços).
É
ainda na sala que está uma escada em caracol que nos leva até o quarto de
Jáder, único compartimento que justifica o segundo andar do prédio. Arquitetura
simples, não há nada além de duas janelas e poeira. Os compartimentos que se
seguem revelam, aqui e ali, alguma mobília.
Há mesinhas, sofá e cadeiras, arcas, cômoda, cabide e um móvel amarelo que
guarda utensílios de cozinha, como pratos, copos, xícaras e taças de sobremesa.
Algumas telas de Cid de Carvalho, seu filho, descansam no sofá ou no chão. Há
sinais de reformas recentes, pontuais marcas de cimento. Fiações pendem do
teto. A ficha de visita domiciliar identifica três inspeções – a última no mês
da nossa visita. No fim do terreno, emaranhados de vegetações se acomodam sobre
ruínas de algumas construções. Entre elas, a céu aberto, resiste um cofre
enferrujado, guardador de segredos que desconhecemos.