Nosso escritor Jáder de Carvalho escreveu no suplemento literário Maracajá, que circulou em Fortaleza em 1929. Eis um de seus poemas, publicado na primeira edição do suplemento:
As
bandeiras que os sertões não conhecem
Jader de Carvalho
Ainda hoje me lembro: - menino,
Quem venceu a guerra do Lopez?
- O Brasil, minha mestra! O
Brasil!
A professora (tão fria!)
Nunca se emocionou ao falar nessa
guerra.
Quanta vez lhe pedi:
- Minha mestra, descreva a
historia do Lopez,
Como os livros grandes ensinam!
(Eu não podia ler nesses livros,
Pois era ainda da segunda
classe...)
A mestra, porem, não sentia
- nada!
Não me contava
- nada!
Bandeira do Brasil? Ella nunca me
disse
O que era o pendão verde e
amarello.
Ella só mandava
Amar,
Venerar,
Respeitar.
A bandeira do martyr São
Sebastião,
Tremulando em janeiro á praça da
matriz...
Na quarta classe (eu era, de
coração, um soldadinho),
Perguntei, comovido
<<Professora, a guerra com
o Paraguay...>>
<<Ella, num gesto irado,
Não me deixou terminar.
E... por gostar de guerra - sabem? – fui de castigo!
Um dia (minha mãe desfeita em
pranto,
Num largo gesto, me abençoou...)
Ficaram lá atraz
O Jaguaribe,
O villarejo,
A mestra.
Cheia de respeito e amor pelo
martyr São Sebastião...
Amigos, si eu lhes disser
A minha alegria
Quando, pela vez primeira, eu vi
e ouvi,
Deante de batalhões em
continencia
Os tambores rufando,
Os clarins clangorando,
Numa apoteose á bandeira que os
sertões não conhecem!...
Ah! Nunca, como nesse instante,
Senti mais vontade de ser homem
feito,
De lutar,
De morrer pelo Brasil,
Tendo no peito tantas feridas
Quantas
Estrelas contei na minha
bandeira...
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