domingo, 19 de maio de 2013

Cinza e verde, tristeza e alegria no sertão

Em tempos de seca que vai-se indo com a chuva que vem chegando, não se torna lugar-comum lembrarmos um poema de Jáder de Carvalho que trata de tema constante nas obras de escritores cearenses: a seca. Afinal, como sertanejo quixadaense que bem conhece as tristezas e as alegrias do povo do sertão, o poeta, com todo o seu lirismo, soube cantar os sentimentos do sertanejo. 


Terra de Sol*


I

Dói na alma ver a seca no sertão:
toda a caatinga tem a cor da cinza;
a água do rio esconde-se na areia;
mugem as vacas dolorosamente.

As moças e os meninos (tão magrinhos!)
estão catando os últimos capulhos 
do algodoal. Ele florara em junho,
mesmo com a rara chuva que o molhou.

Verdes, apenas os mandacarus,
os xiquexiques e os ásperos juazeiros:
verdes, mas defendidos por espinhos!

Por sua vez, o homem também protege,
com a pouca fala e o rosto duro, a abelha
que lhe fabrica o mel no coração...


II

Abro a janela. A terra está feliz:
toda molhada, trêmula de frio.
Mas a cidade é muda nas calçadas:
ó meninos, já não gostais da chuva?

Minha terra se molha como a gente.
Quer dizer: na mais íntima alegria.
Ela mata saudades. Era tempo.
Como eu gosto das árvores na chuva!

Chuva não é somente o sono bom,
a música macia no telhado:
é o pão-nosso, também, de cada dia.

Feito as mulheres grávidas, a terra
vai ficar terna, vai ter olhos úmidos,
vai fechá-los, com medo dos relâmpagos...    


*Extraído do livro Temas Eternos (1973). 


 


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