A
segunda edição de Maracajá traz para nós, jaderianos convictos, dois grandes
regalos.
O
primeiro, uma poesia de Fernando Ricardo dedicada ao nosso escritor - uma
demonstração de admiração ao nosso poeta - e o segundo, a revelação de uma
outra temática presente na obra de Jáder de Carvalho.
Festa na fazenda
A Jader de
Carvalho
<<
Ê bambú, ê bambá
Vae
ver a espingarda
Pra
matar o mangagá...
E
a festa ronca na fazenda...
Rola
no ar o fartum dos seios bronzeados,
Dos
seios exhuberantes,
Das
caboclas suadas...
Ati-chim!...
ati-chim!...
Lá
fora os pyrillampos,
Quaes
minusculos aerolithos,
Fazem
a ronda luminosa
Nas
moutas de mofumbos...
E
na porta da casa da fazenda,
Um
poéta dynamico,
Um
poéta modernista,
Diz
que naquelas caboclas
Está
a promessa de uma raça nova...
<<
Ê bambú, ê bambá
Quem
é que suporta o cheiro
Do
besouro mangangá?...>>
Fernando
Ricardo.
A
homenagem nos diz muito mais do que somente a admiração que nosso escritor
suscita em um de seus colegas, nos apresenta uma outra temática recorrente na
poesia jaderiana. Dinâmico não somente em relação a todas as atividades que
exerceu (poeta, jornalista, romancista, professor), Jáder de Carvalho expõe em
sua obra uma dinamicidade de temas que nos permite classificá-lo como um poeta
completo. Ao lado de sua crítica ferrenha à política, de seu saudosismo, de sua
poesia engajadamente social, de seu telurismo, há também espaço para uma poesia
cantada para as musas, em uma exaltação à mulher sertaneja: uma mulher ao mesmo
tempo sensual e pura.
O
homem que despe as mulheres...
Eu
não gosto de mulher núa
Isto
é:
Eu
não gosto dessas meninas que se despem com as proprias mãos,
Para
o goso efêmero dos passantes.
Eu
gosto de mulher
Quando
eu mesmo lhe arranco até a camisa, com o cheiro das pomas invioladas.
Si
eu mandasse no Brasil,
As
mulheres andariam vestidas
Para
que todos os homens que pensam como eu
Lhes
despissem as roupas e fizessem florescer, num beijo,
As
rosas que os romanticos tiram ás escondidas!
Morenas
do Brasil!
Morenas
do Ceará!
Escondam
os seios! Esperem pelo descobridor dessa terra jovem!
Não
seria tão lindo si vocês
-s-e-m-p-r-e-!-
Nos
dessem a sensação de descoberta?
Jader
de Carvalho.
Nos
dois poemas de Jáder de Carvalho presentes na segunda edição do Maracajá, somos
apresentados à temática do feminino em seus primeiros escritos. O primeiro
desses poemas, "Na praia natal ficou a palmeira...", já
foi tema de nossa última postagem (confira em http://sertaopoesia.blogspot.com.br/2013/02/jader-canta-as-mulheres-da-literatura.html)
e mostrou Jáder enaltecendo Iracema, uma das grandes personagens femininas da
literatura cearense.
Neste
segundo poema, vemos o poeta cantando as suas "morenas do
Ceará" e evocando sensualidade. No entanto, ao lado de todo o tom lascivo
e das imagens metafóricas presentes nessa poesia, o poeta deseja que as
mulheres sejam mais recatadas e passivas diante do homem "descobridor
dessa terra jovem".
A
temática do feminino, mostrada aqui ainda nos primeiros textos de nosso
escritor, será recorrente ao longo de sua trajetória poética, seja em um tom
mais sensual ou mais social. O que fica para nós, leitores, é mais uma faceta
de Jáder de Carvalho a ser apreciada.
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